terça-feira, 18 de abril de 2017

Guest post com Priscilla Serretti: bike trip na Holanda

[English version below]

Holanda e bicicletas: não há clichê maior que esse! Num país onde pessoas de todas as idades usam bicicletas todos os dias para as mais diversas ocasiões, por que não também viajar com ela? 
A Priscilla Serretti, que foi au pair na Holanda em 2014-2015, se aventurou em uma bike trip de cerca de 300km no total e nesse guest post ela conta pra gente como foi essa experiência:

De onde surgiu essa ideia de fazer a bike trip?
Surgiu do nada! Preparei em menos de uma semana. Era Julho e minha host mother me falou que eu teria uma semana a mais de férias. Ela então "sugeriu" (na verdade obrigou) que eu não ficasse em casa essa semana. Era julho e eu não podia gastar dinheiro porque ia pra Londres no outro mês. E agora? O que eu ia fazer? Decidi fazer essa viagem de bike. 

Como você decidiu as cidades por onde iria passar e planejou a rota?
Tinha vários amigxs espalhadxs pela Holanda e escolhi a rota à partir da casa delxs (que era onde eu iria dormir). Fiz parada em Breda que ficava a 100km da minha casa (valeu, Vic!) e em Eindhoven que era 65km de Breda (valeu, Bela). Meu destino final foi Maastricht que era a 100km de Eindhoven, mas como não conhecia ninguém de lá, fiz couchsurfing por três dias. 

O que carregava com você na bike?
Eu levei só o necessário, pois cada coisa a mais era um peso a mais pra carregar na bike. Levei dois shorts, quatro blusas, três calcinhas, um livro, documentos, dinheiro, água/comida e escova de dente.
 Companheira fiel de viagem


Como era o seu dia enquanto estava fazendo a trip? Por exemplo, quanto tempo pedalava, quantas paradas, onde dormia?
Foram três dias de pedalada até Maastricht e o primeiro dia foi o mais difícil. Não por causa da distância, mas porque tive que pedalar 30km na chuva e era muito complicado de ver o GPS sem cair água no celular (sabe como Iphone é né rsrsrsr). Não tinha internet no meu celular então se caso eu me perdesse, tinha que voltar pro lugar certo e tentar de novo (foi assim durante toda a viagem). O mais complicado foi realmente achar lugar pra carregar o celular, sei que tive muita sorte então aconselho alguém comprar aquelas capinhas recarregáveis. Por causa da chuva, eu tinha que deixar o brilho no mais alto e isso comia muita bateria. Não tem placa em todos os lugares e se meu celular morresse eu ia morrer junto. (Fiz essa viagem só com 50 euros no bolso que pedi adiantado pra minha host. Não tinha dinheiro extra). 
O primeiro dia eram 8 horas seguidas de pedalada e acho que demorei umas 14 por causa da chuva! Mas no geral eu parava a cada 15km para beber água e comer algo. Nas paradas sempre escrevia no meu diário também sobre as coisas que vi e momentos que passei.
 Diário onde Priscilla registrou a trip


E como você conseguia ver o caminho sem internet no celular?
Antes de sair, eu deixava a rota no google maps e ele ficava salvo lá. Porém se eu saisse dessa rota o gps não recalculava, eu tinha que voltar e tentar de novo. Acho que pedalei uns 20km a mais de tanto que me perdi, mas vi coisas incríveis tentando me achar.
Você fez alguma preparação física antes de iniciar a trip para "aguentar o tranco"?
Quem me conhece sabe que sempre fui a doida da bicicleta. Pedalava cerca de 150km por semana. Mas olha, quando cheguei em setembro eu não conseguia pedalar 5km sem morrer (é sério, só quando começou a esquentar lá pra abril que comecei a pedalar mesmo). Então calma que resistência você pega! 

Qual o maior perrengue você passou?
Passei muitas coisas. O primeiro dia na chuva foi difícil, chorei porque tava muito nervosa do meu celular quebrar e ficar perdida, quase pensei em desistir. O segundo dia foi maravilhoso e não tive nenhum problema pois fez muito sol. Agora o último dia foi só emoção. Não choveu então qualquer coisa pra mim tava ok. Sendo que dos 100km que pedalei, 80 eram na Bélgica. Alguns caminhos eram privados e me ferrei muito pra achar um lugar alternativo (sem GPS, vale lembrar). O meu maior perrengue foi nos últimos 20km pra chegar em Maastricht. Meu celular estava em 18%. Até aí tudo bem, eu sabia que a bateria daria porque já tinha calculado. Vi no gps que tinha que pedalar 10km em frente então fui. De um lado era um rio, do outro, mato. Mas o mato virou indústrias e me deparei em um portão gigante trancado. Não tinha como passar. Não tinha caminho alternativo. Não tinha uma alma viva (ou morta) no local. Não tinha internet, nem dinheiro e minha bateria estava morrendo. Eu ri da situação mas em nenhum momento surtei, vi aquilo como uma aventura do caralho. Seria uma história TOP pra contar. Tive que voltar e dar uma volta do cacete. Comecei a ficar um pouco nervosa porque estava MUITO longe da rota que eu tinha que seguir e não conseguia voltar pra ela. Quando achei um caminho que podia, eu passei por ele com várias placas ÁREA PRIVADA ÁREA PRIVADA ÁREA PRIVADA ÁREA PRIVADA aí pensei: puta que pariu, vai ter outro portão e não vou conseguir passar. E houve dois portões nesses 10km, sendo que ambos estavam ABERTOS! 
Depois disso foi tranquilo. Cheguei em Maastricht mais ou menos umas 20:00, sendo que meu host não estava em casa e me ligou dizendo que só chegaria MEIA NOITE. E agora? Eu tava cansada, com sono, com fome e tava começando a escurecer. Decidi explorar a cidade (depois que cheguei em Maastricht não usava mais o gps) e encontrei aquela santa Mc Donalds. Tinha wifi, lugar pra carregar o celular e o melhor: fechava meia noite! Fiquei lá até meu host chegar em casa e os outros três dias foram só explorando a cidade e visitando os museus que o museumkaart deixava. Melhor viagem da minha VIDA! 
Não aconselho fazer essa viagem como eu fiz. Eu sei que tive muita sorte em todos os momentos, mas nem todo mundo pode ter a sorte que tive. Leve dinheiro extra (porque passei um pouco de fome no último dia, não aguentava mais comer pão com queijo brie), levem carregador portátil e tenham internet no celular. No mais, vão com tudo!



Alguns registros do que a Priscilla viu em suas andanças. E uma selfie com a bike, claro!

Obrigada por compartilhar essa história tão inspiradora conosco, Priscilla!
E aí pessoal, vão encarar uma bike trip nesse estilo também?

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The Netherlands and bicycles: it doesn't get more cliche than this! In a country where people of all ages use the bikes every day for all kinds of occasions, why not also use it to travel?
Priscilla Serretti, who was an au pair in the Netherlands in 2014-2015, decided to go on a bike trip adventure of around 300km in total! She tells us all about the experience on this guest post:



From where did the idea of doing a bike trip come from?
It came out of nowhere! I planned it in less than a week. It was July and my host mother told me I'd have an extra week of vacation. She then "suggested" (actually ordered) that I didn't stay home that week. I couldn't spend money because I was going to London the next month. What now? What was I going to do? I decided to do this bike trip.

How did you decide which cities you'd go through and planned the route?
I had many friends scattered around the Netherlands and I chose the route taking their houses into consideration (since it was were I'd sleep). I stopped in Breda, which was 100km from my home (thanks, Vic) and in Eindhoven, which was 65km from Breda (thanks, Bela). My final destination was Maastricht, which was 100km from Breda, but since I didn't know anyone there, I stayed with a couchsurfing host for three days. 

What did you take with you on the bike?
I took only the necessary because each extra thing was an extra weight to carry on the bike. I had two pairs of shorts, four blouses, three pairs of panties, a book, documents, money, water/food and a toothbrush.
 Faithful travel buddy

How were your days while you where doing the bike trip? For example, how long did you bike, how many stops?
It were three days of biking until Maastricht and the first day was the most difficult. Not because of the distance, but because I had to bike 30km in the rain and it was very complicated to see the GPS without letting water fall on my phone (you know how iPhones are). There was no internet on my phone so if I got lost, I had to go back to the last right point and try again. It was like that through the entire trip. But the most difficult was to find places to charge the phone. I know I was very lucky, so I advise anyone to buy those rechargeable covers [or to have portable external batteries]. Due to the rain, I had to leave the screen on full brightness and this wasted a lot of battery. Not every place has road signs and if my phone died I'd die with it. I did this trip with only 50 euros in my pocket that I had asked as a payment advance from my host mom. I didn't have extra money. 
The first day was supposed to be 8 hours of biking and I think it took me 14 hours because of the rain! But in general I would stop every 15km to drink water and eat something. At those times I would always write on my journal about the things I'd seen and moments I'd lived.
 Journal where Priscilla registered her trip

And how could you see the route without internet on your phone?
Before leaving (while there was wifi), I'd do the route on Google Maps and it stayed saved. But if I got out of the original route, the GPS couldn't recalculate and I had to go back to the last correct place and try again. I think I biked about 20km extra from all the times I got lost, but I saw incredible things while trying to find myself. 

Did you do any physical preparation before starting the trip to be able to endure such a long journey?
Those who know me know that I have always been the crazy bike person. I used to bike around 150km per week. But, look, when I arrived in September I couldn't bike even 5km without dying (seriously, only when it started getting warmer around April that I started to really bike). So don't worry, you can achieve the endurance! 

What was the most difficult moment you went through?
I went through a lot. the first day in the rain was difficult, I cried because I was very nervous thinking my phone might break and I would get lost, I almost thought about quitting. The second day was wonderful and I didn't have any problems since it was very sunny. But the last day was adrenaline-packed It didn't rain so anything felt ok. From the 100km I biked, 80 were in Belgium. Some were ways were private roads and it was a lot of work to find an alternative route (without GPS, mind you). The most difficult moment was on the last 20km to Maastricht. My phone had 18% battery. Fine until then, I knew it was enough because I had calculated it. I saw on the GPS I had to bike 10km ahead, and so I went. On one side there was a river, on the other, bushes. but then the bushes became industries and I arrived at a giant gate which was locked. there was no way through. there was no alternate way. there was not a living (or dead) soul at that place. There was no internet or money and my battery was dying. I laughed about the situation but I didn't freak out in any moment, I saw that as an adventure. it would be a great story to tell. I had to go back and take a huge detour. Then I started getting nervous because I was really far off from the route I was supposed to take and I couldn't get back to it. When I found a way I could go through, it had many PRIVATE ROAD signs, then I thought: damn it, there will be another gate and I won't be able to go though. And indeed there were two more gates in those 10km, but they were both OPEN!
After that, it was easygoing. I arrived in Maastricht around 20:00, however my couchsurfing host wasn't home and called me saying he'd only be back at MIDNIGHT. What now? I was tired, sleepy, hungry and it was starting to get dark. I decided to explore the city (after arriving in Maastricht I stopped using the GPS) and I found that blessed McDonalds. It had wifi, a place to charge my phone and the best: it closed only at midnight! I stayed there until my host arrived home and the three other days I spent exploring the city and visiting all the museums I could with the Museumkaart. It was the best trip of my life! I don't advise anyone to do this trip the way I did. I know I was very lucky at every moment, but not everyone can have the same luck I did. Take extra money (I starved a bit on the last day, and I couldn't take eating bread with brie cheese anymore), bring a portable charger and have internet on your phone. But for what it's worth, go ahead!



Some photos taken along the way. And a selfie with the bike, of course!


Thanks so much for sharing such an inspiring story with us, Priscilla!